Naqueles tempos de inflação galopante, era comum perguntar o preço até das coisas que você comprava usualmente. Não se dizia "quanto custa tal coisa", mas sim: "Quanto está o tal coisa". Era uma época em que, mesmo as pessoas mais simples que viviam do comércio tinha de calcular por quanto deveriam vender suas mercadorias, e, por mais simples e modestas que fossem tinham de determinar diariamente, quanto iriam custar as suas mercadorias. É óbvio que poucos, diria pouquíssimo, abriam os jornais para saber o índice de inflação e assim recalcular os seus preços. O seu Pereira tinha um procedimento bem singular, e não era diferente da maioria dos pequenos comerciantes. Se perguntávamos: "– Quanto está o picolé, seu Pereira". Ele nos dizia: "dois mil e quinhentos cruzeiros". Se alguém respondesse: - 'Está caro!' Ele imediatamente recalculava e dizia: "Então, dois mil e duzentos cruzeiros".
Por que eu resolvi trazer o seu Pereira das trevas mais profundas da minha memória. E foi justamente o seu Pereira o primeiro a me comunicar que de 28 de fevereiro de 1986, em diante a nossa moeda deixava de ser o Cruzeiro e se chamaria Cruzado. Naquela minha cabeça de moleque a moeda de um país era algo tão imutável, quanto a bandeira e o hino. Pensei tratar-se de mais uma de suas costumeiras gracetas do meu fornecedor de picolés. Não me fiz de rogado, peguei as duas notas de mil cruzeiros e as entreguei "cruzadas" para o seu Pereira.